Nos últimos anos, a América Latina se destacou como pioneira em um modelo de trabalho inovador para uma nova era dos negócios, que chamamos de ‘Planismo’. Com o aumento do trabalho remoto e do nearshoring, a localização física e a realocação deixaram de ser restrições rígidas. O conceito de “lugar” evoluiu para um terceiro fator estratégico, junto com preço e características do produto, permitindo que marcas e empresas extraiam valor e ganhem vantagem competitiva.
A América Latina está na vanguarda de novos modelos de trabalho. É o que mostra o estudo recente Future of work: Models for the workplace in Latin America, da JLL, onde 72% das empresas da região adotaram o trabalho híbrido, muito acima de EMEA (54%), Ásia-Pacífico (44%) e América do Norte (41%). O Brasil, maior economia da região, lidera essa tendência, com 86% das empresas brasileiras optando por um modelo de trabalho flexível.
Além disso, estima-se que existam 35 milhões de profissionais “nômades digitais” ao redor do mundo, muitos dos quais escolhem cidades da América Latina, como Rio de Janeiro, Cidade do México e Buenos Aires, para sua residência. O número de profissionais expatriados que se mudam por motivos de trabalho ou a pedido das empresas também está aumentando.
No entanto, é crucial que as empresas adotem estratégias eficazes para reter profissionais remotos, se quiserem prosperar diante dessa nova realidade. No Brasil, as taxas de burnout são altas e atingem 30% de todos os trabalhadores, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt). Além disso, uma pesquisa recente mostrou que 86% dos expatriados se sentem estressados. A combinação da vida de expatriado com o trabalho remoto em um país que já sofre de alta taxa de burnout significa que as empresas precisam se desdobrar estrategicamente para garantir que suas equipes não apenas sobrevivam, mas prosperem.
A Mauve Group, companhia que auxilia empresas na contratação e pagamento de funcionários ao redor do mundo, destaca cinco estratégias-chave para reter expatriados trabalhando remotamente.
Fomentar uma cultura de trabalho virtual forte
Embora o trabalho remoto traga vários benefícios, como maior flexibilidade e produtividade, um dos maiores desafios é a solidão, especialmente para os mais jovens. Interações espontâneas com colegas são frequentemente citadas como o aspecto da vida no escritório que mais faz falta.
Para compensar a falta de interações físicas, é importante oferecer salas de descanso virtuais, atividades de integração e reuniões individuais para que os funcionários possam comunicar suas preocupações, receber feedback e colaborar no desenvolvimento de suas carreiras. Organizar encontros presenciais, quando possível, ajuda a fortalecer a lealdade mútua. Caso isso não seja viável, oferecer benefícios como academias, aulas de idiomas, ingressos para eventos locais e cestas de presente de aniversário pode ajudar a manter o funcionário conectado e valorizado.
Priorizar a saúde mental e o bem-estar
O estresse é um problema significativo no ambiente de trabalho brasileiro, com dois terços (67%) dos funcionários afirmando que isso afeta negativamente sua capacidade de trabalhar, segundo uma pesquisa recente. Além disso, 57% dos entrevistados do mesmo estudo acreditam que seus superiores não estão preparados para discutir sobre saúde mental sem julgamentos.
As empresas devem entender que, mesmo que um funcionário seja remoto, ele não deve perder o cuidado que os funcionários presenciais recebem. Muitos recursos de saúde mental estão disponíveis online, como sessões de aconselhamento virtual e programas de mindfulness. Médicos também recomendam que empresas que empregam trabalhadores remotos forneçam orientações sobre ergonomia e saúde física como forma de evitar lesões de longo prazo, doenças e efeitos psicológicos negativos.
Implementar caminhos de carreira transparentes
Uma pesquisa recente da Bloomberg revelou que mais de 50% dos trabalhadores remotos se preocupam que estar fora do escritório os torna vulneráveis a cortes de empregos e prejudique suas chances de promoção. Trabalhando em uma cidade ou país diferente, os profissionais remotos muitas vezes se sentem menos visíveis do que seus colegas presenciais, por isso é crucial uma comunicação clara sobre a progressão na carreira, independentemente da localização.
É importante ajudar os profissionais a encontrar propósito e significado no trabalho. Uma forma de fazer isso é melhorar a proposta de valor para cada funcionário, além de personalizar recompensas e promoções com base nas necessidades específicas de cada um. Combinando essa abordagem mais personalizada para a progressão na carreira com critérios claros e justos para promoções e aumentos salariais, comunicando tudo de forma simples e direta, é mais provável que todos os funcionários se sintam valorizados e investidos no futuro.
Oferecer horários de trabalho flexíveis
Além de um salário competitivo, a flexibilidade é o benefício mais desejado em um emprego para 81% dos latino-americanos. O trabalho remoto oferece a chance de máxima flexibilidade, mas muitas vezes os verdadeiros benefícios não são explorados pelos empregadores.
Pense além da jornada de sete horas, cinco dias por semana do trabalho de escritório, e considere semanas de trabalho reduzidas ou até mesmo dar aos funcionários a chance de definir seus próprios horários. Com uma variedade de ferramentas e estratégias desenvolvidas pelas empresas em resposta à pandemia, o trabalho assíncrono agora é uma opção popular para equipes remotas, sendo especialmente atrativo quando se expande um negócio por múltiplos fusos horários. Dar mais autonomia aos profissionais remotos também pode aumentar a retenção, já que pesquisas mostram que funcionários que se sentem no controle de seus horários relatam maiores níveis de satisfação no trabalho e na vida.
Garantir uma remuneração e benefícios competitivos
Não é surpresa que a falta de salário competitivo seja o principal motivo para mudar de emprego no Brasil, mas a necessidade de um pagamento justo é ainda mais agravada pelo trabalho remoto e pela expatriação. Para reter os melhores talentos, as empresas devem oferecer salários competitivos que reflitam o custo de vida no país de origem do profissional e fornecer benefícios de trabalho remoto, como subsídios para um escritório dentro de casa.
Outra opção é a comparação salarial, que significa verificar se os salários da empresa estão de acordo com os padrões do mercado. Além disso, oferecer ajuda na mudança, apoio na adaptação cultural e seguro saúde internacional pode deixar os expatriados mais seguros e conectados, melhorando seu bem-estar e mantendo-os na empresa.