Uma viagem pelas civilizações andinas pré-hispânicas até o Império Inca é a sensação que o público terá ao visitar a exposição Tesouros Ancestrais do Peru, aberta nesta quarta-feira (11), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro.
A mostra, que fica em cartaz até o dia 29 de janeiro do ano que vem, é composta por 162 peças que formam um conjunto raro de objetos encontrados em expedições arqueológicas. A entrada é gratuita e os ingressos podem ser retirados na bilheteria ou pela internet.
Consideradas patrimônio pelo Ministério da Cultura do Peru, o acervo pertence à Fundação Mujica Gallo e faz parte do catálogo do Museo Oro del Perú y Armas del Mundo. Algumas peças nunca saíram do país. A diretora do Museo Oro del Perú y Armas del Mundo, Camila Pérez Palacio Mujica comemorou o fato de uma nação irmã ter acesso fácil ao legado que existe na América do Sul.
“Ter um país com essa cultura que herdou dos antepassados, a linhagem, a herança, é orgulho não somente para os peruanos, mas para a América do Sul. Para o público brasileiro é muito interessante”, disse à Agência Brasil e à Rádio Nacional.
Com a curadoria da arqueóloga peruana Patricia Arana e do produtor cultural Rodolfo de Athayde, a mostra é dividida em cinco blocos temáticos: Linha do tempo, Mineração, Divindades e Rituais, Cerâmica e Têxteis e Colonização. Os objetos da mostra foram produzidos entre 900 a.C e 1600 d.C. e os traços culturais dos povos andinos aparecem em utensílios como depiladores, bolsas, penachos, máscaras funerárias e coroas feitas de ouro.
A passagem por Tesouros Ancestrais do Peru, a Linha do Tempo, apresenta momentos-chave de mais de 10 mil anos de história andina, desde os primeiros habitantes (pescadores e caçadores) até o surgimento da agricultura de irrigação.
Na parte de Mineração, o visitante vai conhecer o domínio sobre os metais, o controle sobre o ambiente natural e seu impacto nas dinâmicas das estruturas do poder.
Em Divindades e Rituais são encontradas peças em ouro e prata, cerâmica e frisos de personagens divinos e semidivinos que orientavam o sistema teocrático-militar baseado nas complexas mitologias fundadoras das culturas andinas.
A exposição segue com Cerâmicas e Têxteis, que trazem as técnicas usadas desde 1.800 a.C para produção de barro moldado e cozido em fornalha. As técnicas permitiram a produção intensa de utensílios também usados para expressar ideias e representar estilos de vida e tradições. O percurso termina com Colonização do império Inca pelos espanhóis e a fundação do Vice-reinado do Peru.
Peças danificadas
Destruição e roubos que ocorreram em muitas partes do território inca tornam as peças mais raras, posteriormente saqueadas por assaltantes de monumentos arqueológicos, conhecidos no Peru como huaqueiros. Para vender ilegalmente a colecionadores, eles reviraram tumbas e centros cerimoniais em busca de peças e muitos objetos foram derretidos. Oferendas funerárias compostas por pequenas figuras de ouro e prata de mulheres e homens estão entre os poucos objetos que sobreviveram aos ataques.
“A maioria das peças incas não sobreviveram ou foram levadas para a Espanha. As intactas estão no museu na Espanha, mas parte delas foi fundida em lingotes de ouro para ser transportada. Tudo que temos aqui são peças de escavações arqueológicas das culturas mais antigas, praticamente pré-incaica”, afirmou o curador Rodolfo de Athayde.
Memória
Para a gerente-geral do CCBB Rio de Janeiro, Sueli Voltarelli, a escolha da exposição no aniversário de 34 anos do CCBB Rio estimula um importante debate sobre a memória latino-americana e seus processos de colonização.
“No último edital tivemos um eixo voltado para povos originários e ancestralidade. A exposição atual traz cultura de pré- colombianos impactados pela colonização e com um processo de quase apagamento. A exposição traz a possibilidade de conhecer estes povos e a sofisticação dessas civilizações.”
A arqueóloga Patricia Arana disse que a iniciativa do CCBB de trazer a exposição pode abrir caminho para uma aproximação entre as universidades dos dois países. “Pode ser o início de um vínculo acadêmico entre as universidades brasileiras do Rio e de São Paulo com as universidades peruanas, porque os arqueólogos têm muitas missões em vários países.”
Império Inca
O Império Inca foi a maior e mais importante reunião de culturas da América antiga. A partir de Cusco, sede política localizada no atual Peru, era formado por diversos povos e chegou a ter, no seu auge, cerca de 12 milhões de habitantes. No Império, também conhecido como Tahuantinsuyo, ou Terra de Quatro Regiões, na língua quechua, os incas que eram politeístas, conseguiram, entre 1438 e 1532, unificar, seja pela força ou alianças, sociedades da região costeira do Oceano Pacífico e da cordilheira dos AndesPovos.
Os povos da região do território estimado em 4 mil quilômetros, se estendendo do sul da Colômbia até partes do Chile e da Argentina, passando por todo o Equador, Peru e Bolívia, tinham em comum o domínio de técnicas sofisticadas de administração, mineração, irrigação, agricultura, cerâmica, produção têxtil e arquitetura. Entre os locais, o mais conhecido e visitado é Machu Picchu, um dos poucos não destruídos completamente durante o processo de colonização.
No segundo dia da mostra (12), às 15h, será realizado um debate entre os curadores e a diretora do Museo Oro del Perú y Armas del Mundo, Camila Pérez Palacio Mujica.
Roteiro
Depois do Rio, a exposição seguirá para os centros culturais do Banco do Brasil de Belo Horizonte (21 de fevereiro a 6 de maio), Brasília (28 de maio a 11 de agosto) e São Paulo (4 de setembro a 26 de novembro).
A mostra, que é a primeira aprovada pelos centros culturaisl, foi selecionada no edital de 2023-2025. Além do Banco do Brasil, a mostra conta com o patrocínio do BB Asset Management, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A organização é da Arte A Produções.
Aniversário
A exposição faz parte das comemorações dos 34 anos do CCBB Rio. A programação gratuita inclui a comemoração do Dia das Crianças nesta quinta-feira (12), quando elas vão ganhar um lanche especial. O público pode se divertir ainda com as mostras Evandro Teixeira, Chile 1973, nas galerias do 2º andar, e Um Certo Brasil – na visão de cinco fotojornalistas, em exibição no 4° andar, junto ao Museu Banco do Brasil.
Haverá ainda a estreia da peça de teatro Azira’i, sobre Azira’i Guajajara, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, a partir da relação com sua filha.
A montagem do clássico de Nelson Rodrigues Vestido de Noiva vai continuar e ainda o Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens (FIL 2023), que comemora 20 anos com diversos espetáculos e vivências para todas as idades.
No cinema, o visitante poderá assistir A magia dos pixels: espelhos animados da realidade, com animações de sucesso dos estúdios Pixar e uma participação de personagens surpresa (cosplay) para interagir com o público.