Compreendo e compartilho da preocupação que muitas pessoas têm com o bem-estar e a preservação dos animais mantidos em aquários e zoológicos, inclusive daquelas que são contra qualquer animal mantido em cativeiro. Porém, acredito que a maioria destas pessoas que se posicionam contra zoológicos e aquários possuem uma visão puramente emocional que pode ser revertida quando têm acesso às informações corretas e confiáveis sobre os bons equipamentos.
Bons equipamentos são aqueles bem fundamentados no tripé educação, pesquisa e conservação, sempre oferecendo ótimas condições de acomodação com exposição e tratamento pautados pelo respeito à vida e ao bem-estar dos animais. Assim, aquários (e zoos) focados neste tripé podem e devem ser vistos como importantes equipamentos de sustentabilidade para a sociedade e para o Planeta.
Aquários (e zoos) vêm desempenhando, desde o início do século XX, importantes funções de educação e estímulo à compreensão ambiental sobre os animais em exposição. Como dizia Jacques Cousteau: “Só se preserva aquilo que se conhece”.
Deste modo, os aquários têm também a extraordinária capacidade de reproduzir ecossistemas marinhos para que os visitantes, num ambiente lúdico e propício, sejam impactados positivamente em seus conceitos e atitudes e possam se aproximar dos animais para conhecer, desmistificar, respeitar e querer preservá-los.
O brilhante pensamento do poeta senegales, Baba Dioum, que diz “No fim, conservaremos apenas o que gostamos, gostaremos apenas do que compreendermos e compreenderemos apenas o que nos tiver sido ensinado”, não poderia estar mais afinado com os objetivos educacionais de aquários e zoológicos para fortalecimento da consciência da preservação.
No entanto, a partir da década de 1990, os grandes aquários marinhos (e zoos) abertos à visitação pública adquiriram novas funções a fim de atender às demandas do mundo em transformação.
Em parceria com universidades e centros de estudo, aquários tornaram-se excelentes locais para a realização de importantes pesquisas científicas e para a capacitação de pesquisadores por reunirem condições muito favoráveis às pesquisas: são locais amplamente acessíveis, onde os custos envolvidos são bem inferiores àqueles das pesquisas de campo, e oferecerem ambientes controlados e monitorados constantemente.
Desde então, relevantes linhas de investigação científica têm produzido trabalhos sobre os hábitos, comportamentos, modos de crescimento e estratégias reprodutivas dos mais diversos seres marinhos, beneficiando sobremaneira a conservação das populações desses animais que vivem livres nos mares e oceanos do Planeta.
Temos também uma nova função assumida para mitigar parte dos impactos sobre a diversidade biológica, gerados pelos graves problemas ambientais que todos nós conhecemos, como a poluição, o desmatamento, a pesca predatória e as mudanças climáticas. Nesse sentido, aquários (e zoos) passaram a servir como bancos de biodiversidade do Planeta. Através do correto manejo e da adequada manutenção dos animais em cativeiro, aquários (e zoos) adquiriram a importante função de preservar parte de nossa fauna ameaçada de extinção.
Como já ocorreu com a ararinha-azul, um bom exemplo real é o mico-leão-dourado. Extinto na natureza, só não foi extinto no Planeta porque havia diversos exemplares mantidos em zoológicos espalhados pelo mundo. Através de um excelente trabalho de reprodução em cativeiro, realizado em zoológicos da Alemanha, foi possível repovoar populações de mico-leão-dourado na Mata Atlântica brasileira, mais especificamente na Reserva Biológica de Poço das Antas (RJ).
Os ursos polares, em função do aquecimento global, e os peixes e tubarões, devido à pesca excessiva e predatória, estão caminhando para se tornarem novos exemplos reais de animais extintos na natureza. Ou seja, daqui a alguns anos, poderemos só ter exemplares vivos de urso polar ou de espécies de peixe ou de tubarão graças aos zoológicos e aquários.
Para finalizar, vale destacar que todas essas atividades de educação, pesquisa e conservação carregam um componente adicional para os visitantes, especialmente para os jovens: ter seu interesse despertado para a ciência e sua vocação descoberta como futuros cientistas e conservacionistas.