A quiropraxia é uma técnica terapêutica que busca aliviar dores musculoesqueléticas por meio da manipulação das articulações, principalmente da coluna vertebral. Embora seja popular para o tratamento de dores nas costas, pescoço e outras áreas, a manipulação cervical pode representar riscos graves, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), quando feita de forma inadequada. O risco está relacionado à possibilidade de lesões nas artérias que irrigam o cérebro, o que pode interromper o fluxo sanguíneo e provocar um AVC.
Quando realizada na região do pescoço, a quiropraxia pode causar, em uma taxa estimada de 1,3 casos por 100 mil, a “dissecção” das artérias carótidas. Esse dano no revestimento interno dos vasos sanguíneos pode criar um ponto de origem para a formação de coágulos, que podem se deslocar até o cérebro e resultar em um AVC. A taxa de derrames provocados por esse tipo de lesão é estimada em 0,97 por 100 mil casos.
Estudos, como os da American Heart Association, apontam que as dissecções arteriais cervicais (rupturas nas artérias vertebrais ou carótidas) são responsáveis por até 25% dos AVCs em pessoas com menos de 45 anos. Essas lesões podem ocorrer com movimentos bruscos durante a manipulação, interrompendo o fluxo sanguíneo para o cérebro e aumentando o risco de AVC isquêmico, que pode levar a consequências graves, como morte ou paralisia.
Para o neurocirurgião Dr. Orlando Maia, esses riscos são reais e precisam ser levados a sério. Ele alerta que “Embora o AVC relacionado à manipulação cervical seja um evento raro, ele pode ser devastador. A avaliação prévia do paciente, levando em consideração o histórico de doenças vasculares ou hipertensão, é essencial antes de qualquer procedimento de quiropraxia.”
O especialista também reforça que pessoas com histórico de enxaquecas, hipertensão ou doenças vasculares devem evitar manipulações no pescoço e preferir terapias alternativas que não envolvam risco de lesões arteriais. “Em casos assim, a fisioterapia ou o uso de métodos menos invasivos podem ser opções mais seguras”, sugere.
Embora a quiropraxia seja uma técnica válida, é importante que o paciente se informe corretamente e tenha sempre a orientação de um profissional qualificado. O paciente deve estar atento ao histórico de saúde, especialmente em relação a doenças vasculares, e nunca realizar o procedimento sem uma avaliação detalhada. Além disso, se após a manipulação cervical houver sintomas como dor intensa no pescoço, tontura, dificuldades de visão ou fraqueza, é essencial procurar atendimento médico imediatamente.
Caso os sintomas de um AVC apareçam após a manipulação cervical, é fundamental agir rapidamente. Os sinais de alerta incluem:
- Fraqueza ou paralisia em um lado do corpo
- Dificuldade de falar ou entender a fala
- Perda de visão em um ou ambos os olhos
- Tontura, perda de equilíbrio ou coordenação
- Dor de cabeça intensa e súbita, sem causa aparente
Se perceber algum desses sintomas, chame imediatamente o serviço de emergência. Quanto mais rápido o atendimento médico, maiores são as chances de reduzir os danos causados pelo AVC. É crucial que o tratamento ocorra nas primeiras 4 horas após o início dos sintomas, pois nesse período o tratamento pode reduzir significativamente o risco de danos cerebrais permanentes e aumentar as chances de recuperação. Durante o transporte para o hospital, evite que a pessoa se movimente demais e mantenha a calma.
Além de buscar um quiropraxista qualificado e realizar a avaliação prévia de saúde, é importante adotar medidas gerais para reduzir o risco de AVC. Manter a pressão arterial sob controle, adotar uma alimentação balanceada, praticar atividades físicas regulares e evitar o consumo excessivo de álcool são atitudes que podem prevenir o AVC. Consultar um médico regularmente, especialmente se houver histórico de hipertensão ou problemas vasculares, também é fundamental para garantir a saúde arterial e prevenir complicações.
Caso o paciente busque alívio para dores no pescoço ou coluna, existem diversas alternativas que não envolvem riscos tão altos, como a fisioterapia, terapias de relaxamento, acupuntura e o uso de medicamentos prescritos por um médico. A fisioterapia, por exemplo, pode ajudar a melhorar a mobilidade e reduzir a dor sem colocar o paciente em risco de lesões arteriais.
Prevenir complicações graves é possível, e a melhor maneira de fazer isso é buscar sempre profissionais capacitados, estar ciente dos riscos envolvidos e adotar uma abordagem cautelosa, priorizando sempre a segurança do paciente.