O diagnóstico precoce é o maior aliado da saúde humana. E quando se trata da saúde do coração, a medicina está cada vez mais avançada. Exames laboratoriais e de análises moleculares, por exemplo, têm possibilitado identificar riscos cardiovasculares antes mesmo do surgimento dos primeiros sinais clínicos. Estudos recentes apresentados em congressos internacionais, como o AACC Annual Scientific Meeting & Clinical Lab Expo, nos Estados Unidos, destacaram o papel de novos biomarcadores na avaliação precoce de doenças cardíacas, incluindo indicadores ultrassensíveis de inflamação, lesão miocárdica e predisposição genética.
Para o cardiologista Dr. Victor Duque Estrada Zeitune, essa evolução está mudando a abordagem preventiva. “Os marcadores atuais permitem detectar alterações antes que o paciente apresente dor, cansaço ou qualquer outro sintoma. Isso amplia a janela de intervenção e melhora a estratégia de prevenção”.
Biomarcadores: identificar risco antes dos sinais clínicos
Em 2024, pesquisadores brasileiros apresentaram em conferências científicas uma avaliação atualizada sobre biomarcadores cardíacos utilizados globalmente, incluindo troponina de alta sensibilidade, proteína C-reativa ultrassensível (PCR-us) e peptídeos natriuréticos. Relatórios divulgados pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) ressaltam que o país tem participado do debate internacional sobre esses avanços.
Zeitune explica que esses indicadores ajudam a identificar inflamação sistêmica, sobrecarga cardíaca e microlesões que ainda não se manifestam clinicamente.
“Exames como a PCR-us e a troponina de alta sensibilidade já fazem parte da rotina de centros de referência. Eles mostram mudanças mínimas que, quando interpretadas no contexto correto, indicam risco aumentado mesmo em pacientes assintomáticos”.
Perfis genéticos e risco familiar
Além dos marcadores sanguíneos, testes baseados em análises genômicas têm ganhado espaço na prevenção cardiovascular. Pesquisas internacionais, publicadas nos últimos anos em periódicos como o Journal of the American College of Cardiology (JACC), apontam que determinados perfis genéticos podem indicar maior probabilidade de desenvolvimento precoce de doença arterial coronariana.
De acordo com o cardiologista, essa abordagem auxilia especialmente pessoas com histórico familiar. “A genética ajuda a identificar pacientes que precisam começar a prevenção mais cedo. Ela não determina o futuro, mas permite mapear predisposição e agir antes que o problema se manifeste”.
Exames funcionais que completam o diagnóstico precoce
Além de biomarcadores e testes genéticos, exames funcionais de imagem e monitoramento também contribuem para detectar alterações iniciais. Entre eles estão:
- Angiotomografia coronariana, que identifica placas de gordura mesmo em fases silenciosas;
- Cálcio coronariano, usado para quantificar calcificações ainda iniciais;
- Teste ergométrico e ecocardiograma sob estresse, recomendados para avaliação de performance e repercussões funcionais;
- Monitoramento ambulatorial contínuo, como Holter de alta resolução.
No entanto, o médico ressalta que a escolha dos exames deve ser individualizada. “Não existe um único exame capaz de responder a tudo. A combinação de métodos é o que revela risco de forma mais precisa”.
O papel da prevenção estruturada
O Ministério da Saúde e entidades internacionais, como a American Heart Association, estimam que grande parte dos eventos cardiovasculares graves poderia ser evitada com diagnóstico antecipado e acompanhamento regular. O uso de biomarcadores e exames de imagem, segundo essas instituições, amplifica a capacidade de identificar grupos de maior risco.
“A análise precoce não substitui o acompanhamento médico. Ela complementa. O melhor resultado ocorre quando combinamos exames modernos com avaliação clínica adequada e mudanças estruturadas no estilo de vida”, conclui o médico.
Victor Duque Estrada Zeitune
Dr. Victor Duque Estrada Zeitune é cardiologista com especialização em Cardiologia Clínica e atuação em gestão de saúde. No Rio de Janeiro, dirigiu serviços hospitalares, coordenou unidades de terapia intensiva e trabalhou com UTI móvel. Também possui formação em Gestão de Saúde Empresarial. Foi agraciado com a Medalha Tiradentes pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro por sua contribuição à saúde pública. Atualmente, ele estende sua atuação como consultor entre Brasil e Reino Unido, com experiência em projetos médicos e estratégicos internacionais















