O segundo dia de palestras do palco Conecta Varejo, nesta quarta-feira (13), no Rio Innovation Week — o maior evento global de tecnologia e inovação, que acontece no Pier Mauá até sexta-feira (15) — trouxe reflexões sobre reinvenção de marcas, o impacto da Inteligência Artificial no varejo e a importância de colocar pessoas no centro da transformação digital. Entre cases inspiradores, debates sobre personalização e provocações sobre a verdadeira cultura de inovação, o público acompanhou nomes de peso como Luiz Arruda (Porto), Vanessa Gordilho (Vibra), Arthur Igreja (autor especialista em inovação) e especialistas de empresas como Accenture, Salesforce e Suvinil.
O painel “Marcas em movimento – a reinvenção como estratégia” apresentou os cases da Porto – originalmente Porto Seguro – e da Vibra, de combustíveis. Mediada por Amanda Graciano, CEO da Trama, a apresentação mostrou que as empresas estão focadas na inclusão das equipes no mundo digital. Luiz Arruda, vice-presidente da Porto, contou que a empresa tem engajado os corretores, oferecendo treinamento e equipamento para que usem as redes como instrumento de venda. “Não somos tech first, somos human first”, resume o executivo, que planeja ter toda a equipe de 45 mil corretores atuando como influenciadores até 2030.
Essa também é a visão da Vibra. Vanessa Gordilho, vice-presidente executiva de comercial varejo da empresa, destacou a importância do papel do ecossistema para atrair clientes. Lembrando a experiência com os frentistas durante uma campanha de engajamento que mostrava uma dancinha, ela contou que a marca coloca colaboradores no centro de suas campanhas publicitárias e oferece treinamentos para estimular a criatividade e a comunicação. “Todos os nossos colaboradores recebem treinamento para uso de IA”, destacou.
A importância do conhecimento também foi destacada no painel “Do algoritmo à emoção: o consumidor na era da GenAI”, mediado por Mariana Castro, head de curadoria da Kes, ao lado de Juliana Noronha, líder de ecossistema de inovação da Accenture, e Renate Fuchs, managing director da Accenture. As palestrantes foram unânimes em defender a necessidade de se investir em dados estruturados, que são fontes para personalização do atendimento, a trend mais atual e o caminho para o consumidor. Renate Fuchs também falou sobre a transformação da busca online, que está cada vez mais guiada por recomendações e personalização via inteligência artificial, modificando a forma como os buscadores e as empresas geravam renda.
A terceira palestra foi do especialista em tecnologia e inovação Arthur Igreja. Ele conduziu a palestra “Cultura de Inovação” com um tom provocador e repleto de exemplos práticos. Ele desmistificou a ideia de que inovação se resume a métodos superficiais, defendendo a “cultura do óbvio”, baseada em experiências simples, objetivas e sem burocracia. Para Igreja, facilitar a vida do consumidor e ser pragmático são pilares essenciais, e a inquietação é o motor para mudanças reais. A Inteligência Artificial, segundo ele, é uma ferramenta extraordinária para impulsionar esse processo, desde que usada com senso crítico.
O palestrante alertou para os desafios do uso crescente da IA, que já está presente em 71% das empresas, ressaltando que a dependência excessiva e a confiança cega na tecnologia podem gerar problemas. Para ele, a objetividade deve prevalecer na cultura de inovação, resolvendo questões imediatas antes de projetar soluções futuras. Além disso, destacou que inovar também envolve gestão eficiente de talentos, garantindo que as pessoas certas estejam nos lugares adequados para que todas as funções essenciais estejam bem ocupadas.
Durante o painel Liderança em tempos de IA, mediado pelo jornalista Pedro Doria, Ricardo Zuccollo, executivo da Unilever, contou que a empresa começou a se preparar há 10 anos para se manter relevante e inovadora no atual cenário de rápidas transformações tecnológicas. O planejamento estratégico voltado para o futuro focou na redução das fricções operacionais, liberando os executivos de tarefas que podem ser automatizadas. A Unilever também investiu em personalizar uma IA para auxiliar os gestores a tomarem decisões mais assertivas. Mas para isso é necessário ter acesso aos dados do varejo, que é quem lida com o consumidor final. Zuccollo confidenciou que esse é um trabalho longo, com estratégias de aproximação, confiança e apresentação de resultados. “Não há discussão se não for baseada em dados”, afirmou o executivo.
Ainda visando a manutenção da posição de destaque no mercado, a Unilever tem trabalhado na descentralização e empoderamento das equipes na ponta, para conferir agilidade aos processos. Zuccollo afirmou que os empregos não estão ameaçados pela tecnologia, mas devem aprender com ela e desenvolver competências humanas, como curiosidade, empatia, liderança humana e capacidade de aprender.
Já a palestra “IA Aplicada ao Varejo | O Futuro Chegou: os dilemas da IA no mundo corporativo” trouxe à tona um dos temas mais impactantes da atualidade: o papel da Inteligência Artificial na transformação dos negócios. Claudia Fernandes, da consultora Radar Consult, Alessandra Fu Vivian, diretora da Enterprise Architecture Salesforce e Renato Almeida Rocha, diretor comercial America Latina & África Suvinil compartilharam suas experiências e reforçaram a importância de alinhar a tecnologia com a cultura organizacional e o propósito humano, para que a inovação seja, de fato, sustentável. Renato Rocha desmistificou a ideia de que apenas grandes empresas podem acessar e implementar IA. “Estamos diante de uma transformação comparável à chegada da internet na década passada. A IA não vai tirar o emprego de ninguém, mas de quem não souber usá-la”, afirmou. Ele destacou ainda que o pequeno e médio varejo, muitas vezes visto como menos tecnológico, pode ter até mais agilidade na adoção dessas ferramentas, desde que haja vontade de aprender e refletir sobre o uso estratégico da tecnologia.
Alessandra Fu Vivian complementou a discussão ao afirmar que a transformação precisa ocorrer em todo o ecossistema — do fornecedor ao varejista. Para ela, o primeiro passo é deixar de lado práticas analógicas, como o caderninho, e começar a registrar e analisar dados de forma estruturada. “Os dados dizem tudo”, pontuou. A palestra, portanto, não apenas incentivou a adoção da IA, mas propôs uma mudança de mentalidade coletiva, onde tecnologia, educação e colaboração caminham juntas.














