A adoção de práticas sustentáveis no setor de eventos deixou de ser um diferencial e se tornou uma exigência estratégica — especialmente para marcas B2C, que conversam diariamente com um consumidor mais consciente, munido de informação e atento ao impacto socioambiental das suas escolhas. O relatório Events Industry Trends Report 2025, da Eventex Awards, confirma essa virada: a sustentabilidade já é a segunda maior tendência global do setor, citada por 18,48% dos profissionais entrevistados.
No Brasil, esse movimento é ainda mais evidente. Um estudo da consultoria ESG Insights, divulgado em fevereiro de 2024, mostra que 95% dos consumidores brasileiros preferem marcas que investem em sustentabilidade. Essa mudança de mentalidade tem levado empresas a enxergarem eventos não apenas como experiências presenciais, mas como extensões poderosas de reputação, compromisso ambiental e responsabilidade social.
A transformação, no entanto, não é apenas comportamental — ela é estrutural. Como explica Thiago Spiess, CIO da Equipa Group e co-fundador do Instituto Tran$forma, durante o evento R1 Talks, que discutiu os desafios rumo à sustentabilidade no painel ESG em ação, falando como grandes marcas transformam eventos em uma plataforma de impacto. Ele revelou que a agenda ESG já remodelou profundamente o setor. “Nos eventos, a agenda de sustentabilidade vem ganhando cada vez mais protagonismo, levantando temas como o desperdício de alimentos, a responsabilidade na escolha de fornecedores e o planejamento de ações que reduzam impactos. Trata-se de orientar os clientes e desenvolver objetivos realmente alinhados a essa perspectiva sustentável”.
O avanço do mercado reforça essa necessidade. Segundo a Allied Market Research (2024), o setor global de eventos deve movimentar US$2,5 trilhões até 2035, com crescimento médio anual de 6,8%. Dentro desse cenário, os eventos sustentáveis ocupam espaço crescente, podendo atingir US$1,5 bilhão até 2030. No Brasil, a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (ABRAPE) projeta para 2025 um impacto econômico de R$141 bilhões, enquanto a UBRAFE registrou um aumento de 19% no número de eventos de grande porte somente no primeiro semestre de 2025, em comparação com 2024.
Mesmo assim, crescimento não pode significar mais impacto negativo. Spiess reforça a necessidade de integridade em toda a cadeia: “Não adianta a empresa ter uma certificação ESG se isso não é respeitado em toda a cadeia, especialmente nas áreas de compras. A responsabilidade é compartilhada e só assim conseguiremos mudanças consistentes.”
Os impactos ambientais de um evento são significativos e, muitas vezes, invisíveis ao público. Em alguns casos, o consumo de energia de uma única produção pode equivaler ao gasto anual de mais de mil residências. A isso se somam toneladas de resíduos, emissões de transporte, uso intensivo de água e a pegada de fornecedores. Por isso, a economia circular emerge como diretriz essencial para o setor, não como discurso, mas como prática.
Com essa evolução, eventos deixam de ser momentos isolados e se consolidam como plataformas de impacto positivo, influência cultural e construção de reputação. Sustentabilidade já não é tendência, é a nova régua de relevância.
“Estamos entrando em uma nova era dos eventos, em que não basta entregar experiências memoráveis, é preciso entregar impacto positivo. A sustentabilidade deixou de ser discurso e passou a ser prática mensurável, que exige planejamento, transparência e responsabilidade de toda a cadeia. Quando um evento é pensado sob a ótica da economia circular, ele gera valor ambiental, social e econômico muito além do seu dia de realização. Essa é a direção que o mercado está adotando, e quem não acompanhar ficará para trás.”













