O agronegócio brasileiro está acostumado a conviver com oscilações de mercado e incertezas climáticas, mas o momento atual soma fatores que têm deixado o produtor em alerta. O tarifaço imposto pelos Estados Unidos e a instabilidade política no Brasil, às vésperas das eleições de 2026, aumentaram o sentimento de cautela em relação ao futuro. A área plantada de grãos e algodão deve se manter estável, já que boa parte da produção foi comercializada de forma antecipada, mas os investimentos em inovação no campo estão sendo freados.
“Quando há insegurança, o produtor naturalmente se concentra no básico, no que garante a safra. Só que isso limita o potencial de resultado da lavoura”, explica Alexandre Craveiro, diretor de P&D e sócio-fundador da Fertsan, empresa brasileira de biotecnologia agrícola. Para ele, a decisão de postergar tecnologias de especialidade é compreensível no curto prazo, mas pode sair cara na hora de fechar as contas.
A lógica, segundo Craveiro, deveria ser invertida: em vez de enxergar inovação como gasto, tratá-la como uma ferramenta de segurança. “Ganhos de cinco sacas de soja por hectare ou de quinze arrobas no algodão não são apenas números técnicos. São margens que, em momentos de instabilidade, podem significar a diferença entre lucro e prejuízo”, afirma.
Nos últimos anos, a ciência tem oferecido alternativas para que o agricultor consiga extrair mais da mesma área cultivada, sem depender de expansão. É o caso de insumos baseados em biopolímeros e nanotecnologia, capazes de estimular o desenvolvimento das plantas e fortalecer suas defesas naturais. A utilização desses produtos permite reduzir custos com defensivos e melhorar a qualidade dos grãos e fibras produzidas. Essa abordagem preventiva, avalia Craveiro, ajuda a diminuir riscos justamente quando o mercado é mais imprevisível: “É colocar hoje para colher depois. Em períodos de volatilidade, preparar a planta para atingir seu máximo potencial é uma forma de proteção financeira.”
Enquanto governo e entidades do setor discutem formas de amenizar os impactos do tarifaço, especialistas destacam que a saída para o produtor pode estar menos na política e mais no campo. Aumentar a eficiência por hectare pode ser a chave para atravessar a instabilidade e manter o agro competitivo no cenário internacional.














