“Confiança demais pode ser o começo do fim.” É assim que Mário Silva Jr, Diretor de Investigação Corporativa da S2 Consultoria e responsável pela coordenação do livro Doce Cilada, resume um dos erros mais perigosos que as empresas cometem: acreditar que laços pessoais no trabalho são sempre inofensivos.
No ambiente corporativo, amizades entre colaboradores e fornecedores podem se transformar em uma armadilha silenciosa. O que começa com um almoço pago “sem segundas intenções” ou um presente de cortesia pode evoluir para favores, acesso privilegiado e, por fim, a entrega de informações estratégicas. Quando o limite ético é cruzado, o preço pode chegar a milhões.
O personagem Antônio Carlos, presente em Doce Cilada, nasceu de um caso real que Renato acompanhou na S2 Consultoria. Baseado em um líder que, em decorrência de vínculos pessoais e presentes recebidos de prestadores de serviços, acabou envolvido em práticas de corrupção e divulgação de dados confidenciais, ele é um retrato fiel de como a confiança excessiva pode corroer decisões estratégicas.
E os números confirmam o tamanho do risco. Segundo levantamento global da ACFE – Association of Certified Fraud Examiners, divulgado em abril de 2024, 37% das fraudes corporativas envolveram conluio entre funcionários e fornecedores, com prejuízo médio de US$ 1,7 milhão por caso, um salto de 12% em relação a 2022. No Brasil, a Controladoria-Geral da União (CGU) aponta que, só em 2025, R$ 3,2 bilhões se perderam no setor público e privado por causa de “relações pessoais não declaradas”.
Mário explica que a psicologia por trás disso é mais comum do que se imagina. “A teoria da dádiva”, de Marcel Mauss, mostra que, quando alguém recebe um presente ou benefício, surge, muitas vezes de forma inconsciente, a obrigação de retribuir. Essa reciprocidade, quando não é controlada, abre a porta para conflitos de interesse e corrupção.”
As consequências vão muito além do caixa. Vazamentos de informações podem comprometer estratégias inteiras, minar negociações e destruir reputações construídas em décadas. Pior: como boa parte dessas trocas acontecem fora do radar formal das empresas, o problema só é percebido quando já é tarde demais.
Como evitar que amizades perigosas virem prejuízos reais?
“O segredo está em agir antes do problema aparecer”, afirma Renato Santos, Diretor de Ciência Comportamental da S2 Consultoria e co-autor do livro Doce Cilada. Segundo ele, não basta confiar na boa vontade das pessoas, é preciso criar barreiras saudáveis que protejam a organização.
Renato destaca quatro pilares essenciais para blindar a empresa:
1- Regras claras sobre presentes e favores: “É importante definir limites objetivos para o que pode ou não ser aceito e registrar tudo”, ressalta o Renato.
2- Declaração de relações pessoais: “Crie canais seguros para que funcionários possam informar vínculos sem medo de retaliação”, sugere o Diretor.
3- Treinamento contínuo: “Capacite líderes e equipes para identificar conflitos de interesse e agir rápido”, afirma o especialista.
4- Monitoramento inteligente: “Use tecnologia para cruzar dados de contratos, fornecedores e interações internas, detectando padrões suspeitos antes que virem crise”, completa.
Para Renato, a chave está em cultivar um ambiente onde a transparência não seja ameaça, mas valor central. “A confiança é indispensável, mas precisa ter limites claros e inegociáveis”, finaliza.
S2 Consultoria
A S2 Consultoria foi fundada em 2014 com o objetivo de promover uma cultura ética e transparente dentro das organizações. Com o apoio de especialistas de áreas como Direito e Psicologia, a empresa desenvolveu testes de integridade que avaliam o perfil ético e as soft skills de profissionais de qualquer área. O PIR – Potencial de Integridade Resiliente – é a metodologia aplicada, validada cientificamente pelo EnANPAD e outros estudos. A empresa já atendeu marcas como Stone, Votorantim, Assai, Localiza, Libbs, Tegra, Ypê, entre outras. Mais informações: https://s2consultoria.com.br













