
Trabalhar com moda ao redor do mundo me permitiu observar algo que, com o tempo, se tornou incontornável: ainda que a estética e as linguagens mudem, a relação entre modelos e marcas segue, muitas vezes, presa a uma lógica antiquada, marcada por distanciamento, hierarquia e silenciamento. Essa constatação, vivida em mercados tão distintos quanto o europeu, o americano e o brasileiro, foi o que me motivou a repensar — e agir.
Nos bastidores das campanhas, nos castings, nas negociações e nos corredores das semanas de moda, é comum encontrar talentos extraordinários reduzidos a números, medidas e imagens. A contribuição criativa dos modelos raramente é considerada. Contratos são opacos. As relações, muitas vezes, são tão fugazes quanto a troca de figurino. E isso não é apenas um problema ético — é um desperdício de potencial.
Acredito que estamos diante de uma oportunidade real de transformação. A nova geração de modelos — e de consumidores — exige mais do que estética. Quer propósito, diversidade, representatividade e, acima de tudo, verdade. E isso só é possível quando há escuta, respeito e colaboração entre todos os envolvidos no processo criativo.
Foi com essa inquietação que decidi fundar a Level, uma agência que nasce com o propósito de ressignificar o papel do modelo na cadeia da moda. Mais do que representar modelos, planejamos carreiras de forma estratégica e personalizada, entendendo que cada trajetória é única e que o verdadeiro impacto está na construção conjunta entre imagem, propósito e mercado.
Porém este artigo não é sobre uma empresa — é sobre uma mudança de mentalidade. O que proponho aqui é um convite: que possamos substituir relações transacionais por vínculos de confiança e cocriação. Que modelos sejam vistos como agentes ativos de comunicação, não como suportes visuais. E que as marcas compreendam o valor de investir em relações duradouras e éticas.
Essa não é uma utopia idealista. Ao redor do mundo, vejo marcas que prosperam ao adotar práticas mais inclusivas e transparentes. Vejo agências que começam a repensar sua atuação com responsabilidade e escuta. Vejo consumidores que respondem com entusiasmo a campanhas que fogem do script tradicional. Estamos no limiar de uma nova era — e quem não se adaptar, vai ficar para trás.
No centro dessa mudança está a transparência — nos contratos, nas expectativas, na comunicação. E a colaboração, que exige tempo, escuta e disposição para abrir espaço ao outro. É hora de romper com estruturas que perpetuam o desequilíbrio e construir novos modelos — de negócios e de relações — mais justos, mais horizontais e mais humanos.
A moda sempre foi um espelho do seu tempo. E este é um tempo que pede coragem para mudar. Que sejamos parte dessa transformação.
O autor:
Jaroslaw Piasecki é um empresário polonês de visão estratégica, cuja trajetória tem transformado diversos setores, com destaque para o mercado de luxo, moda e mobilidade no Brasil. Piasecki viveu no país durante a infância e manteve uma forte ligação com a cultura brasileira, e atualmente se divide entre Londres, Varsóvia, Mônaco e São Paulo. O executivo iniciou trajetória profissional como matemático em bancos de investimento, mas fez a transição para o empreendedorismo, onde consolidou seu nome ao fundar e desenvolver um portfólio de empresas de sucesso no Brasil, como Vippers, Level e Grupo Quero Passagem.
Integrando expertise financeira e criatividade, Piasecki tem se destacado por desenvolver negócios que ultrapassam fronteiras e setores. Sua trajetória é marcada pela habilidade de identificar tendências globais e transformá-las em oportunidades concretas, solidificando sua posição como líder em mercados exigentes e competitivos. Entre suas empresas, estão algumas OTAs (Online Travel Agencies) no segmento de travel tech: Quero Passagem e a Rodoviariaonline, além de dois projetos globais no mercado de alto padrão: a Agência de Modelos Level e a Vippers, reconhecida como referência em mobilidade de luxo.
Por Jaroslaw Piasecki, empresário polonês, fundador da agência de modelos boutique Level