O automobilismo brasileiro completou, em 2025, oito décadas desde a inauguração de Interlagos, um dos circuitos mais emblemáticos do país. A história, porém, começou antes, na década de 1930, com o Autódromo de São Paulo, conhecido como Rio Preto e considerado o primeiro autódromo brasileiro. Ao longo desse percurso, pistas com diferentes traçados, geografias e níveis de exigência técnica moldaram gerações de pilotos.
Para o ex-piloto e campeão brasileiro Renato Conill, a engenharia dos circuitos foi determinante para o desenvolvimento do esporte no país. Ele ressalta que “cada pista brasileira nasceu dentro de um contexto tecnológico e urbano específico, e isso definia o tipo de piloto que ela formava”.
Do Autódromo de São Paulo ao surgimento das primeiras competições organizadas
O primeiro autódromo brasileiro, inaugurado em 1926 na região do Rio Pequeno, em São Paulo, tinha 3,2 km e foi projetado para seguir padrões europeus da época. Apesar da curta existência, desativado em 1940, tornou-se um marco inicial da transição das corridas de rua para circuitos fechados.
Conill explica que esses primeiros traçados eram decisivos para trazer maior segurança e padronização. “Quando o Brasil começa a abandonar as corridas em vias públicas e passa para circuitos definidos, o esporte muda de patamar. Os pilotos aprendem a lidar com curvas técnicas, áreas de escape e velocidades mais altas de forma controlada”, afirma.
Interlagos: 85 anos de impacto esportivo e urbanístico
O Autódromo José Carlos Pace, inaugurado em 1940 e reinaugurado após reformas em 1990, teve impacto direto no automobilismo nacional e internacional. Segundo dados históricos, sua pista longa inicial tinha 7.960 metros, uma das maiores do mundo à época.
A remodelação para 4.309 metros, utilizada atualmente, buscou atender às exigências de segurança da Fórmula 1 e reduzir trechos de alta velocidade contínua.
Para Conill, Interlagos foi essencial para elevar o nível dos pilotos brasileiros.
“Era, e ainda é, um circuito que exige leitura precisa de elevação, controle de desgaste de pneus e estratégia para mudanças climáticas repentinas. Nenhum piloto passava por Interlagos sem evoluir tecnicamente.”
Tarumã, Brasília e outras pistas que ajudaram a formar campeões
Enquanto Interlagos se consolidava, outros autódromos surgiram entre as décadas de 1960 e 1980, ampliando a base nacional do esporte.
Tarumã (RS)
Inaugurado em 1970, o autódromo de Tarumã é conhecido por suas curvas rápidas e ausência de grandes áreas de escape, características que exigem precisão absoluta.
Conill, que disputou e venceu provas importantes no circuito, entre elas as 12 Horas de Tarumã, em 1974, destaca que “Tarumã sempre cobrou coragem e constância. Um erro mínimo comprometia a corrida inteira.”
Autódromo de Brasília
Com traçado de 5,5 km, o Autódromo de Brasília, inaugurado em 1974, foi considerado, durante anos, um dos mais completos do país pela variedade de curvas de alta e baixa velocidade.
Conill, vencedor dos 1000 km de Brasília em 1983, lembra que “o traçado misto e as retas longas exigiam carros equilibrados e pilotos técnicos. Era uma pista que separava acerto fino de improviso.”
Como os circuitos moldaram estilos de pilotagem
Estudos do Projeto Motor e análises históricas apontam que os circuitos brasileiros influenciaram diretamente a formação técnica dos pilotos nacionais:
- Traçados longos e ondulados, como Interlagos, desenvolveram estratégia e leitura de pista.
- Curvas rápidas e desafiadoras, como Tarumã, refinaram reflexos e precisão.
- Autódromos mistos, como Brasília, exigiram equilíbrio entre velocidade e condução técnica.
Segundo Conill, “os pilotos brasileiros dos anos 1970 e 1980 enfrentaram circuitos muito distintos. Isso os tornava versáteis e, muitas vezes, competitivos internacionalmente.”
O legado para as novas gerações
Com mudanças estruturais, modernização e adaptações às normas internacionais de segurança, parte desses autódromos segue ativa, enquanto outros enfrentam abandono ou inatividade. Mas, para Conill, o legado permanece.
“A história das pistas brasileiras é também a história da formação do piloto nacional. Esses circuitos criaram uma base técnica que marcou gerações e mostrou que o automobilismo no Brasil sempre foi maior que os nomes de seus campeões.”
Renato Conill
Renato Conill nasceu em Pelotas (RS) em 1950 e iniciou sua carreira automobilística aos 17 anos. Competiu em provas regionais e nacionais, vencendo corridas como as 12 Horas de Tarumã (1974) e os 1000 km de Brasília (1983). Foi campeão e vice-campeão em campeonatos gaúchos, paulistas e brasileiros. Sua última participação em competições foi nas 6 Horas de Fortaleza, em dupla com Nelson Piquet, aos 48 anos.














