A adoção de práticas ESG deixou de ser periférica e passou a fazer parte da estrutura operacional das empresas brasileiras. Segundo levantamento publicado pelo jornal Estado de Minas, 95% das companhias no país já adotam algum tipo de diretriz ambiental, social ou de governança. Outro estudo, da DataCenterDynamics, aponta que 71% das empresas brasileiras implementaram pelo menos uma das principais práticas reconhecidas globalmente no campo do ESG.
Para Sandro Tordin, executivo com trajetória em instituições financeiras e infraestrutura, esses indicadores mostram que o debate avançou, mas ainda há grande distância entre adoção formal e impacto mensurável.
“O desafio para 2026 e nos anos seguintes não é aderir ao ESG, mas integrá-lo de forma coerente à estratégia. A agenda não pode ser tratada como checklist ou marketing corporativo”, afirma.
Transparência e governança devem ganhar protagonismo
A tendência, segundo Tordin, é que a governança corporativa se torne o eixo central das iniciativas ESG. À medida que regulações se tornam mais exigentes e investidores demandam padronização das informações, empresas precisarão adotar métricas verificáveis, auditorias independentes e relatórios consistentes.
Ele avalia que setores intensivos em capital, como energia, saneamento e infraestrutura, serão especialmente pressionados por órgãos reguladores, financiadores e parceiros internacionais.
“O custo de capital tende a ser diretamente afetado pela capacidade da empresa de demonstrar como gerenciar riscos e oportunidades socioambientais”, diz o executivo.
Dados, métricas e padronização devem orientar decisões
O avanço de legislações e de novos frameworks globais sugere que 2026 será marcado por maior exigência de métricas padronizadas. Softwares de monitoramento, inteligência de dados e relatórios automatizados devem ganhar espaço nas áreas de risco e sustentabilidade.
Para Tordin, isso altera a dinâmica interna. “Assim como o mercado financeiro incorporou modelos quantitativos há décadas, empresas terão de estruturar áreas capazes de interpretar indicadores ESG, relacioná-los à performance e integrá-los ao planejamento.”
Ele destaca que medição de emissões, rastreabilidade da cadeia de suprimentos e avaliação de riscos climáticos serão temas centrais nas auditorias corporativas.
Pressão por descarbonização e eficiência energética
Dentro do pilar ambiental, a pressão sobre emissões e consumo de energia tende a crescer. Setores como construção civil, mineração, siderurgia e logística devem passar a reportar indicadores mais detalhados não apenas por exigência regulatória, mas também por demanda de grandes contratantes e fundos internacionais.
Tordin avalia que projetos de eficiência energética, substituição de fontes e modernização de equipamentos deixarão de ser iniciativas pontuais e passarão a integrar os ciclos de investimento.
“Empresas que dependem de financiamento estruturado, especialmente em infraestrutura, verão a análise ESG cada vez mais conectada à viabilidade econômica”, analisa.
Avaliação de riscos sociais e exigências trabalhistas
No âmbito social, especialistas apontam para a expansão das exigências relacionadas a condições de trabalho, diversidade, saúde e segurança operacional. Cadeias produtivas amplas, como construção e logística, deverão adotar controles mais rígidos e mecanismos de verificação independentes.
Segundo Tordin, esse movimento afeta diretamente fornecedores e pequenas empresas que compõem cadeias críticas. “A rastreabilidade deixa de ser apenas responsabilidade da empresa contratante. Toda a rede passa a ser avaliada, e isso muda a forma de selecionar parceiros e estruturar contratos.”
Integração estratégica: a principal tendência pós-2026
Para além das exigências regulatórias, Tordin sustenta que o diferencial competitivo estará na capacidade de integrar ESG aos modelos de negócio. Ele afirma que empresas que tratam a agenda apenas como obrigação regulatória tendem a enfrentar maior custo operacional e dificuldade em captar recursos.
“A partir de 2026, ESG deixa de ser uma resposta à pressão externa e passa a fazer parte da lógica de geração de valor. Quando incorporado à estratégia, o tema altera governança, investimentos, operações e relações com stakeholders”, analisa.
Sandro Tordin

Sandro Tordin é executivo do setor financeiro e de infraestrutura. Atuou como CEO do Banco Ficsa S/A, liderando processos de aquisição, desenvolvimento e alienação de negócios em parceria com Polimix, Equipav e Delmont.
Foi presidente do Conglomerado Financeiro Schahin, conduzindo uma reestruturação estratégica com impacto relevante nos resultados da instituição. É graduado em Administração com ênfase em Análise de Sistemas pela FASP, possui especialização em Economia pela FAAP e está em certificação como Conselheiro e em ESG pelo IBGC.
Com experiência em engenharia, construção, energia e mineração, participou de operações de project finance, avaliação de ativos e gestão financeira. Atualmente, é CEO da Verino, concentrado em projetos financeiros e criação de valor por meio de fusões e aquisições.












