A transição energética global está na agenda de líderes de todo o planeta, mas, apesar da urgência, o tema ainda é um desafio para empresas tradicionais do setor de combustíveis fósseis.
Segundo relatório do World Economic Forum (2025), o mundo poderá economizar US$ 26 trilhões até 2050 com a adoção acelerada de energias limpas, um dado que reforça o impacto econômico positivo da transição. O Brasil, quarto maior mercado global de renováveis, possui 88% da matriz elétrica já proveniente de fontes renováveis, enquanto a média mundial é de apenas 30%, segundo dados do Ministério de Minas e Energia.
Nesse cenário, Paulo Narcélio, economista, aponta que a adaptação a esse novo contexto é o que fará a diferença para a sustentabilidade e competitividade das empresas do setor.
O impacto da transição energética no setor de combustíveis fósseis
De acordo com estudo da BloombergNEF, para cada dólar investido em petróleo, gás natural ou carvão, apenas 48 centavos são aplicados em fontes de energia limpa, evidenciando o descompasso entre os investimentos atuais e as necessidades de transição energética.
Narcélio destaca que a transição energética não é uma opção, mas uma necessidade estratégica. As empresas que não se adaptarem correm o risco de perder relevância no mercado e enfrentar desafios regulatórios e financeiros.
Ele enfatiza que a diversificação das fontes de energia e a adoção de tecnologias mais limpas são passos cruciais nesse processo. “Investir em energias renováveis, como solar, eólica e biocombustíveis, além de tecnologias de captura e armazenamento de carbono, pode proporcionar novas oportunidades de negócios e reduzir a exposição a riscos regulatórios e de mercado”, acrescenta.
O desafio das empresas tradicionais está, segundo o economista, em equilibrar o modelo atual de rentabilidade, ainda fortemente baseado em combustíveis fósseis, com a necessidade de inovar e reduzir emissões.
Essa adaptação já é observada em grandes players internacionais. A britânica BP e a norueguesa Equinor, por exemplo, vêm redirecionando parte significativa de seus investimentos para eólica offshore e biocombustíveis. No Brasil, a Petrobras anunciou em 2025 um plano para destinar US$ 11,5 bilhões em cinco anos à transição energética, ainda assim, o valor representa menos de 10% do total de investimentos previstos.
O papel das políticas públicas
O governo brasileiro tem implementado políticas para incentivar a transição energética. Em 2024, o país aumentou a renovabilidade de sua matriz energética para 49,1%, superando a média mundial de 14,7%. Ainda no mesmo ano, o Brasil registrou um crescimento de 30% nos investimentos em energia solar e 20% em eólica, segundo dados da Aneel.
Além disso, o setor de energias renováveis liderou as fusões e aquisições nacionais em 2025, com R$ 120 bilhões em negócios, representando 40% do mercado de M&A.
Paulo Narcélio observa que o setor privado tende a responder com rapidez quando há clareza regulatória e previsibilidade fiscal.
“Empresas e investidores precisam de segurança jurídica para direcionar recursos a longo prazo. Políticas públicas consistentes, combinadas a linhas de crédito verdes e incentivos tributários, são determinantes para sustentar esse ciclo de transformação”, explica o economista.
Ele acrescenta que, além dos investimentos diretos, a modernização da infraestrutura energética, como redes inteligentes, armazenamento e digitalização, será o diferencial competitivo da próxima década.
Oportunidades na economia de baixo carbono
A transição energética não se limita à substituição de fontes de energia, mas à criação de um novo ecossistema econômico. Estudo da Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que o setor de renováveis possa gerar 14 milhões de novos empregos até 2030.
Para Narcélio, essa transformação pode beneficiar empresas tradicionais, desde que saibam reaproveitar seus ativos, conhecimento técnico e capilaridade para entrar em novas frentes.
“Companhias de petróleo, gás e derivados podem diversificar para biocombustíveis, hidrogênio verde e captura de carbono, aproveitando sua infraestrutura logística e experiência em larga escala. O que está em jogo não é apenas a sobrevivência, mas o protagonismo no futuro da energia”, conclui o economista.
Paulo Narcélio
Paulo Narcélio Simões Amaral é economista formado pela UERJ (1984), com MBA em Finanças pelo IBMEC e especializações internacionais em Wharton (EUA), INSEAD (França) e Berkeley (Venture Capital). Com mais de três décadas de experiência em finanças corporativas, gestão de investimentos e administração de empresas, liderou empresas de telecomunicações, mídia, tecnologia e energia. Atualmente, é conselheiro empresarial e atua em processos de reestruturação e turnaround.















