Em um momento em que a geopolítica global passa por transformações aceleradas e desafiadoras para a agenda climática, a 12ª edição do Congresso Sustentável, promovida pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS), reuniu, nos dias 1 e 2 de julho, em Belém (PA), 300 pessoas para debater caminhos concretos para uma economia verde, justa e integrada à floresta e à sociedade amazônica. Entre lideranças empresariais, representantes do poder público e especialistas, o evento contou com a participação da CEO da COP 30, Ana Toni; do governador do Pará, Helder Barbalho, e do professor de relações internacionais Oliver Stuenkel, que trouxe análises sobre as oportunidades geradas pela transição da ordem global.
“Como podemos usar a competitividade do Brasil para contribuir com o mundo? Como aproveitar nossa matriz energética limpa para tornar o aço brasileiro mais verde? Na agricultura e na pecuária, estamos modernizando métodos para gerar ainda mais vantagens ao país. Precisamos criar os fundamentos para responder ao chamado da década da implementação. A pré-COP e o Congresso Sustentável existem para isso”, afirmou Marina Grossi, presidente do CEBDS e Enviada Especial para o setor empresarial na COP30, durante a abertura do evento.
A quatro meses da realização da COP 30, o evento reforçou a importância da colaboração entre os setores público e privado para a construção de soluções climáticas ambiciosas e viáveis capazes de fazer o Brasil ser um polo confiável e neutro em meio às tensões entre grandes potências, como EUA e China. O encontro destacou o potencial do Brasil para exercer liderança global ao apostar na valorização da biodiversidade, no fortalecimento da bioeconomia e em políticas integradas de clima, natureza e sociedade.
O Teatro do Gasômetro, no Parque da Residência, também recebeu uma exposição com 65 iniciativas promovidas por empresas associadas ao CEBDS. Essa ação é parte do levantamento em curso que culminará no portfólio Brasil de Soluções, documento com ações implementadas e escalonáveis, que será entregue ao governo brasileiro durante a cúpula global em novembro. Até agora, já foram mapeadas 135 iniciativas no total.
Jornada rumo à COP 30
Um dos momentos marcantes foi o encontro entre a CEO da COP30, Ana Toni, o governador do Pará, Helder Barbalho, e o enviado da COP30 para os estados da Amazônia, Marcelo Brito. Recém-chegada da London Climate Action Week e da Conferência do Clima de Bonn, Ana destacou a diferença entre o ritmo das negociações políticas e o avanço das ações práticas.
“A geopolítica não está ajudando. Diferentemente de outros momentos, o motor da mudança climática não virá de cima para baixo. As negociações internacionais estão cada vez mais difíceis. A transformação virá das empresas, dos consumidores, das populações indígenas e dos governadores. Esta COP precisa ser a da aceleração da implementação”, afirmou Ana Toni.
Helder Barbalho complementou: apenas ações de fiscalização não serão suficientes para frear o desmatamento no longo prazo. “Muitos focam apenas na conservação. Mas, para garantir escala e permanência, é preciso que a floresta em pé tenha mais valor do que a floresta derrubada. Precisamos conciliar as árvores com as pessoas que vivem sob suas copas – caso contrário, o conflito social será um grande entrave à preservação ambiental”, declarou o governador.
Durante os painéis, foi enfatizado que é possível impulsionar o desenvolvimento sustentável a partir da Amazônia — desde que haja coordenação, investimentos e clareza regulatória. “Não haverá transição climática sem uma economia próspera no Brasil”, afirmou Marcelo Furtado, head de Sustentabilidade da Itaúsa. Ele defendeu a valorização dos ativos naturais como forma de garantir prosperidade com base em modelos regenerativos.
A presença de vozes internacionais também reforçou o papel do CEBDS como articulador da transição sustentável. Tony Goldner, CEO da TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures), alertou que os riscos ligados à natureza já afetam diretamente os resultados financeiros de empresas e convocou o setor privado brasileiro a reagir com estratégia. “Em economias como a do Brasil, não há fluxo de caixa sem o fluxo da natureza”, afirmou.
Com discussões sobre bioeconomia, agropecuária regenerativa, infraestrutura resiliente e segurança energética, o Congresso Sustentável 2025 reforçou que enfrentar a emergência climática requer soluções escaláveis e alianças duradouras entre setores. Ao reunir os principais atores da transformação sustentável e algumas das maiores empresas do país, o CEBDS reafirma seu papel como catalisador da ação climática e construtor de pontes entre empresas, governos e sociedade civil. O Congresso é parte essencial da jornada brasileira rumo à COP30 — e ao futuro.
O Congresso Sustentável 2025 foi patrocinado por Equinor, Philip Morris, Vale, Yara, Banco da Amazônia, Banco do Brasil, Caixa e Governo Federal.
Lideranças femininas – 8ª edição do Prêmio CEBDS de Liderança Feminina
Durante o Congresso, o CEBDS também realizou a cerimônia de entrega da 8ª edição do Prêmio CEBDS de Liderança Feminina, que reconhece profissionais de empresas associadas que se destacam pela promoção da equidade de gênero e pela liderança em iniciativas alinhadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), com foco especial no ODS 5 (igualdade de gênero).
As vencedoras deste ano foram Juliana de Lavor Lopes, diretora de ESG, Comunicação e Compliance da AMAGGI; Suelen Joner, head de Sustentabilidade e Diversidade & Inclusão do grupo Azzas 2154; e Bruna Mesquita, gerente de Sustentabilidade da Michelin para a América do Sul.
“Significa muito para mim. Tenho profunda admiração pelo CEBDS, tanto pelas pautas que mobilizam quanto pela liderança da Marina Grossi. Que a COP30 seja um marco e nos permita sonhar com um Brasil onde a sociobioeconomia esteja no centro da economia”, afirmou Bruna, que atua há 13 anos na Michelin.
As trajetórias das três vencedoras demonstram que é possível alinhar inovação, impacto socioambiental e inclusão nos negócios. Suas atuações vão do combate ao desmatamento à estruturação de cadeias produtivas regenerativas, passando pela incorporação de metas socioambientais à estratégia empresarial. À frente do tema no maior grupo de moda da América Latina, Suellen tem metas coorporativas ambiciosas: garantir 100% de rastreabilidade do couro até 2030.
“Receber um prêmio de uma instituição que eu respeito, acompanho e aprendo desde o início da minha carreira é muito significativo. Ser mulher, trabalhar com sustentabilidade e atuar num cenário tão desafiador e complexo
como a moda traz um gostinho a mais para esse reconhecimento”, afirmou Suellen, que há cinco anos atua com ESG no maior grupo de moda da América Latina.
A premiação em Belém reforça o compromisso do CEBDS – que tem 70% de sua equipe formada por mulheres – com a diversidade e a equidade de gênero. As pautas de diversidade e inclusão estão em diferentes estágios nas empresas e setores brasileiros. A executiva da Maggi aponta os benefícios que lideranças femininas podem trazer aos negócios.
“Nós falamos muito sobre a COP 30, mas pouco sobre o depois que é tão importante. Temos um longo caminho no Brasil, principalmente considerando o Netzero até 2050. Somos uma potência do agro e precisamos ser vistos como uma potência do agro ambiental. A atuação das mulheres no agro nos próximos anos pode ajudar muito a atingir esses objetivos”, concluiu sob aplausos, Juliana Lopes.